quarta-feira, 23 de agosto de 2017

TUDO COMEÇOU!!!Vai para Lisboa!!!

Dona Isaura...




Estava eu sentado no lugar 53 da carruagem 22 (Braga-Lisboa) quando na estação do Porto-Campanhã levanto-me para uma Senhora se sentar no lugar 51 (janela), tinha eu junto a mim um livro "Legado" e uma garrafa de água.

A senhora lá se sentou e eu lá voltei ao meu silêncio com os meus pensamentos, ideias, e leituras...

Dada altura a Senhora perguntou-me apoiando a sua mão em mim: "Vai para Lisboa?". Eu respondi ainda com a voz meio adormecida, "sim vou"...

Voltei ao meu silêncio e a Senhora voltou ao seu, reparei que ela após alguns momentos lanchou mesmo ali, enquanto ia observando a paisagem pela janela...

Alguns quilómetros depois, voltou a colocar a mão em mim e perguntou-me: "Vi há pouco um campo com oliveiras todas certinhas, pequenas, do mesmo tamanho, foram plantadas ou semeadas?". Eu respondi: "Olhe não sei ao certo, mas acho que são plantadas", de seguida voltei ao meu silêncio.

Momentos depois, a Senhora: "Peço desculpa, estar a incomodar, mas íamos aqui os 2 tão calados que eu tomei a liberdade de falar com o Sr". (eu). Ora essa respondi.

Em seguida após a minha resposta contou-me a sua história...

Dona Isaura de 90 anos com um sorriso rasgado no rosto cheio de sabedoria:
"Sou costureira, vivo em Campolide desde os meus 21 anos, data em que me casei...
Fui visitar a minha irmã que tem 99 anos e já está muito velhinha, já nem me reconhece muito bem, quem toma conta dela é a minha sobrinha, a sua filha, é uma boa filha, toma conta da mãe, não a quer por num lar, diz que agora é a vez dela cuidar da mãe...
Foi o meu sobrinho (filho da minha irmã) que me levou à estação (TUA), ele ficou muito contente por me levar, e eu também...
O Sr. (eu) é tão simpático, tem uma voz tão calma...Eu cá estou, a idade já dá alguns sinais, tenho a minha vista já com "cataratas", tenho um aparelho porque sou "surda" que nem uma porta...
Mas já falei um pouco com o Sr. e agora estou melhor, falar faz bem..."

PALAVRAS DA DONA ISAURA SEMPRE COM UM SORRISO RASGADO NO ROSTO.

A conversa só parou em Lisboa, muito mais contou, já na estação de Santa Apolónia despedi-me da Dona Isaura com o coração nas mãos, porque aquela SENHORA, com as suas histórias de uma vida na primeira pessoa fez-me lembrar a minha avó, a única que conheci, que também tinha um sentido de família e de unidade familiar muito forte...

O irmão da Dona Isaura já tem 104 anos...

Obrigado Dona Isaura e PARABÉNS pela sua vontade de viver...




Até breve!!!